Poucas coisas no mundo são mais democráticas que o calendário. Hoje (25 de setembro), por exemplo, é dia de se homenagear um personagem na base no organograma familiar: a tia solteirona, praticamente um dalit na hierarquia parental. (Dalit são os menores caras do hinduísmo, injustamente relevados)

Parafraseando Hemingway, não pergunte por que os sinos hoje se dobram por elas – lembre que elas se dobram por ti, quando bem-intencionadas.

Todo mundo tem, teve ou terá uma tia solteira em algum momento da vida. Você a conhece: passada dos 40, trabalhada ou não na sutileza no falar (mas sempre eloquente), não casou e não namora ninguém. Acha chato chegar ao que é objetivo num instante, e prefere ter aquela velha opinião formada sobre tuuuuuuuudo, sobre o que é amor, sobre onde você errou (agora releia esse último parágrafo tendo em mente aquela música do Raul Seixas). 

Em geral, são práticas. Habitam ambientes compactos e preferem ir à caça sozinhas ou com outras como elas. Para se alimentar, tendem a recorrer a locais como a sua casa, onde o clima é propício.

Um aspecto definidor das tias solteironas é que não se acasalam. Em muitos casos, trata-se de opção de vida. Noutros, as opções é que não ajudam. Se você tivesse de escolher viver com o Nicolas Cage ou o Berlusconi, por exemplo, seria difícil não optar por solteirice, monastério, prisão perpétua ou pena capital. Percebe?

De mais a mais, tias solteiras tendem a ser comparativamente úteis. Sua tia sempre irá ouvir você e sempre te dará conselhos, mesmo que sejam bizarros, bizarros. Com isso em mente, considere alguns outros espécimes do mundo doméstico, tais como o sogro com ar hostil, o irmão mais novo e pentelho da namorada ou o tiozão fã de Pink Floyd (sem relação com a tia solteirona). Viu? Sua tia solteirona acaba de ganhar novo respeito.

Portanto, cumpra seu dever cívico: arrume um tempo na agenda praquela sua tia solteirona, ponha sua melhor roupa de ver os parentes, faça uma visita e faça-a se sentir amada no dia dela. Pelo mimo, é o mínimo.